abril 27, 2008

Mudanças - Changes

A partir de Maio, vou publicar os meus poemas acompanhados de uma versão em inglês. A mudança de visual serve para marcar o início desta nova fase. Espero que gostem!

In May, I'll start posting my poems with an English version. This new look was decided to mark this new phase. I hope you like it!

abril 21, 2008

Desfecho

Não tenho mais palavras
Gastei-as a negar-te...
(Só a negar-te eu pude combater
O terror de te ver
Em toda a parte).

Fosse qual fosse o chão da caminhada,
Era certa a meu lado
A divina presença impertinente
Do teu vulto calado
E paciente...


E lutei, como luta um solitário
Quando alguém lhe perturba a solidão.
Fechado num ouriço de recusas,
Soltei a voz, arma que tu não usas,
Sempre silencioso na agressão.


Mas o tempo moeu na sua mó
O joio amargo do que te dizia...
Agora somos dois obstinados,
Mudos e malogrados,
Que apenas vão a par na teimosia.




Miguel Torga

abril 14, 2008

Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!


Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem de passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


Fernando Pessoa

abril 09, 2008

To Anna-Lys...

Uma amiga da blogosfera pediu-me que traduzisse um poema para a nossa língua. Aqui está ele:

A blogger friend asked me to translate a poem to Portuguese. Here it is:

O melhor que possuimos,
Não o podemos dar,
Também não o podemos escrever,
Nem o podemos dizer.
O melhor que está na nossa mente
Ninguém pode tornar impuro.
Brilha, lá bem no fundo
Para ti e para Deus somente.
É a glória da nossa riqueza
Que mais ninguém pode tocar.
É o tormento da nossa pobreza
Que mais ninguém pode alcançar.
Karin Boye

abril 04, 2008

Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade, para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento.
Sophia de Mello Breyner Andresen

abril 01, 2008

Um Mês Diferente

Este mês, os meus posts vão ser diferentes. Não vou postar textos meus. Vou dar-vos a conhecer alguns dos meus poemas e autores preferidos. Espero que gostem!
Para começar, escolhi este:
As Palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade